segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tarefa De Historia Do 3° Volume Da Pagina 6.

Mais de três bilhões de pessoas estão condenadas a mortes prematuras por fome e sede, em todo o mundo.

Não se trata de um número exagerado; na verdade, é uma estimativa cautelosa. Pensei bastante sobre isso depois da reunião do presidente Bush com as montadoras de automóveis norte-americanas.

No dia 26 de março, a sinistra idéia de converter alimentos em combustíveis se estabeleceu definitivamente como diretriz econômica de política externa para os Estados Unidos.
Um artigo da agência de notícias norte-americanas AP, distribuído a todos os cantos do mundo, afirmava, textualmente:

"WASHINGTON, 26 de março (AP). O presidente George W. Bush elogiou na segunda-feira os benefícios dos automóveis que funcionam com etanol e biodiesel, durante uma reunião com montadoras de automóveis na qual buscou estimular seus planos para combustíveis alternativos.

Bush disse que um compromisso dos líderes da indústria automobilística nacional quanto a duplicar sua produção de veículos acionados por combustíveis alternativos ajudaria a convencer os motoristas a abandonar os motores a gasolina e a reduzir a dependência do país com relação ao petróleo importado.

'Trata-se de um grande avanço tecnológico para o país', disse Bush depois de inspecionar veículos movidos a combustíveis alternativos. 'Se o país quer reduzir o consumo de gasolina, é preciso oferecer ao consumidor a possibilidade de tomar uma decisão racional.'

O presidente instou o Congresso a aprovar em regime acelerado um projeto de lei proposto recentemente pelo governo que disporia o uso de 132 bilhões de litros de combustíveis alternativos no país em 2017, e imporia padrões mais exigentes para o consumo de combustível em automóveis.

Bush se reuniu com o presidente-executivo e do conselho da General Motors, Rich Wagoner; com o presidente-executivo da Ford Motor, Alan Mulally; e com o presidente-executivo do Chrysler Group, Tom LaSorda.

Os participantes da reunião discutiram medidas de apoio à produção de veículos acionados por combustíveis alternativos, metas para desenvolver a produção de etanol com base em materiais como gramíneas e serragem, e uma proposta para reduzir em 20% o consumo de gasolina em prazo de 10 anos.

As discussões se realizaram em um momento de alta nos preços da gasolina. O mais recente estudo da Lundberg Survey sinaliza que o preço médio da gasolina nos Estados Unidos subiu em 1,58 centavo por litro, para US$ 0,69 por litro."

Acredito que reduzir e também reciclar todos os motores que consomem eletricidade e combustível é uma necessidade elementar e urgente para toda a humanidade. A tragédia não consiste em reduzir os gastos com a energia, mas sim na idéia de converter alimentos em combustíveis.

Hoje se sabe com toda precisão que uma tonelada de milho produz uma média máxima de 413 litros de álcool, a depender das densidades.

O preço médio do milho nos portos dos Estados Unidos se eleva a US$ 167 por tonelada; portanto, para produzir 132 bilhões de litros (35 bilhões de galões) de álcool seriam precisos 320 milhões de toneladas de milho.

De acordo com dados da Organização Mundial de Agricultura (FAO), a safra de milho dos Estados Unidos foi de 280,2 milhões de toneladas em 2005.

Ainda que o presidente fale em produzir combustível com base em grama ou lascas de madeira, qualquer pessoa pode compreender que são afirmações desprovidas de realismo. Para compreender basta dizer que 35 bilhões de galões querem dizer 35 seguido por nove zeros!

Virão mais tarde belos exemplos da produtividade por pessoa e por hectare que os experientes e bem organizados agricultores norte-americanos atingiram: o milho convertido em álcool os resíduos de milho convertidos em ração animal com 26% de proteína; o excremento de gado usado como matéria-prima para a produção de gás. Isso, claro, depois de elevados investimentos que só estão ao alcance das empresas mais poderosas, nas quais tudo precisa funcionar na base do consumo de eletricidade e combustível.

Se essa receita for aplicada aos países do Terceiro Mundo, veremos quantas pessoas entre as massas famintas de nosso planeta deixarão de comer milho. Ou algo pior: se financiamentos forem concedidos aos países pobres para que produzam álcool de milho ou de outros alimentos, não restará uma árvore para defender a humanidade contra as alterações climáticas.

Outros países do mundo rico planejam usar não só milho mas também trigo, sementes de girassol, de colza e outros alimentos na produção de combustível. Para os europeus, por exemplo, seria negócio importar toda a soja do mundo a fim de reduzir o gasto com os combustíveis de seus automóveis e alimentar seus animais com os resíduos do cereal, especialmente rico em todos os tipos de aminoácidos essenciais.

Em Cuba, diversos tipos de álcool são gerados como subproduto da indústria açucareira, depois da realização de três extrações, do açúcar ao sumo de cana. A mudança do clima está afetando nossa produção de açúcar. Grandes secas e chuvas recorde se alternam, e isso só permite produzir açúcar durante cem dias com rendimento adequado nos meses do nosso muito moderado inverno, de modo que falta açúcar por tonelada de cana ou falta cana por hectare cultivado devido às prolongadas secas nos meses de semeadura e cultivo.

Na Venezuela, pelo que sei, eles planejam usar o álcool não para exportação, mas sim para melhorar a qualidade ambiental de seus combustíveis. Por isso, independentemente da excelente tecnologia brasileira para a produção de álcool, em Cuba o emprego da tecnologia de produção direta de álcool a partir do sumo da cana não constitui mais que um sonho ou desvario daqueles que se iludem com essa idéia. Em nosso país, as terras dedicadas à produção direta de álcool podem ser muito mais úteis à produção de alimentos para o povo e à proteção do meio ambiente.

Todos os países do mundo, ricos e pobres, sem exceção alguma, poderiam economizar milhões de milhões de dólares em investimento e combustível se simplesmente promovessem a substituição das lâmpadas incandescentes por lâmpadas fluorescentes, algo que Cuba já levou a cabo em todos os domicílios do país. Isso significaria uma forma de resistir à mudança do clima sem matar de fome as massas empobrecidas do mundo.

Como se pode observar, não emprego adjetivos para qualificar o sistema e os donos do mundo. Essa tarefa pode ser perfeitamente realizada pelos especialistas em informação, pelos homens das ciências socioeconômicas e políticas honestos que existem em grande número no mundo e constantemente avaliam o presente e o porvir de nossa espécie. Basta um computador e um número crescente de redes de Internet.
Hoje temos pela primeira vez uma economia realmente globalizada, e uma potência dominante no terreno econômico, político e militar, que em nada se assemelha à Roma dos imperadores.

Alguns se perguntam por que falo de fome e sede. Respondo: não se trata do outro lado da moeda, mas sim das diversas faces de um outro objeto, como um dado que tem seis faces ou um poliedro com muitas faces mais.

Recorro, no caso, a uma agência oficial de notícias, fundada em 1945 e em geral bem informada sobre os problemas econômicos e sociais do mundo: a Telam. Reproduzo textualmente:

"Cerca de dois bilhões de pessoas viverão, dentro de apenas 18 anos, em países e regiões nos quais a água será uma recordação distante. Dois terços da população mundial poderão estar vivendo em lugares onde essa escassez gerará tensões sociais e econômicas de tal magnitude que poderiam levar os povos a guerras pelo precioso ouro azul."

Durante os últimos cem anos, o uso de água aumentou em ritmo mais de duas vezes superior ao do crescimento da população.

Segundo estatísticas do Conselho Mundial da Água (WMC, de sua sigla em inglês), se estima que, em 2015, o número de pessoas afetadas por essa grave situação suba a 3,5 bilhões.

A ONU celebrou em 23 de março o Dia Mundial da Água, conclamando os países a enfrentar a escassez mundial de água sob a coordenação da Organização de Agricultura e Alimentação das Nações Unidas (FAO), com o objetivo de destacar a crescente importância da falta de água em nível mundial, e a necessidade de maior integração e cooperação, que permitam garantir uma gestão sustentável e eficiente dos recursos híbridos.

Muitas regiões do planeta sofrem escassez severa de água, vivendo com menos de 500 metros cúbicos por pessoa/ano. Cada vez mais regiões padecem de falta crônica desse elemento vital.

As principais conseqüências da escassez de água são a quantidade insuficiente desse líquido para a produção de alimentos, a impossibilidade de desenvolvimento, industrial, urbano e turístico, e problemas de saúde."

É isso que a Telam tem a dizer.

Deixo de mencionar nesse caso outros dados importantes, como o derretimento das geleiras na Groenlândia e na Antártida, os danos à camada de ozônio e a crescente presença de mercúrio em muitos peixes de consumo habitual.

Há outros temas que poderiam ser abordados, mas pretendo simplesmente com estas linhas fazer um comentário sobre a reunião do presidente Bush com os executivos que dirigem as montadoras de automóveis norte-americanas.

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